quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tabanca de Djati

Tudo começou em Dezembro/Janeiro quando o Juan me chama para falar de um projecto que tinha em mente: Esperança e Saúde para a Guiné-Bissau cujo objectivo era levar cuidados de saude onde não os há! Como é obvio o meus olhos brilharam e beberam cada palavra que ele disse. A meio do seu discurso eu disse logo que sim, que alinhava em ir com ele e com o resto da equipa formada no principio também pela Flavia. A primeira campanha seria marcada para Março, ainda estava longe mas estava numa pilha para ir.

Na quinta dia, 22, fazer o caixote com o material que iria precisar e sexta toca a esterilizar o material todo e a por em caixas! Saimos por volta das 4, com destino a Quebo, onde a nossa espera tinhamos Fredy, Raquel (enfermeira) e o seu filho Lucas. No nosso carro ia Maritza, missionária, Juan, missionário e enfermeiro, Flavia, missionária, Djalo, mecanico, Jeremias grande apoio da Casa Emanuel e eu, médica dentista.
Passado 1h de viagem, o carro aqueceu, e fomos a uma casa perdida no meio da densa vegetação pedir água. Não nos lembramos que o poço poderia estar vazio porque não nos passou pela cabeça e porque não houve sequer hesitação das crianças que por ali brincavam. Depois de atirarem o balde para o poço é que percebemos que de facto estava a secar, é impressionante, esta gente dá o que tem e o que não tem. Era uma familia muito querida e prestavel, acabando a Flavia por dar um pão a cada um deles, que ficaram radiantes.





O caminho fez-se muito bem ate Quebo. Jantamos, tomamos banho, vimos uma quipa portatil de medicina dentária que eles tinham e por fim deitamo-nos (muito querido o Lucas ofereceu o quarto dele) pois o dia iria começar as 6 da manha!
O despertador tocou as 5.30 OH MY GOD!!! Tomamos o “mata-bicho”, arrumamos tudo e estavamos prontos para mais 3h de caminho ate Djati.
















Tabanca essa onde Fredy e Raquel têm vindo a desenvolver um optimo trabalho mas são os unicos, não ha ONG’s, brancos, taberna que venda coisas, não há nada, so eles, o arroz, as suas casinhas, arvores, rio e agora, uma nova construção, que virá a substituir as salas de aulas feitas de ramos de arvores.
A nossa chegada foi diferente do normal, sim aproximaram-se do carro mas para ver, para esclarecer a sua curiosidade e nao para pedir nada... estranhei confesso. Que sãs aquelas crianças!



Montamos, na futura escola, uma clinica provisória! De uma lado Raquel e Juan a dar consultas, avaliando tensão arterial, HIV, fazendo curativos, no fundo, a consultar tudo o que aperece-se e do outro lado eu, com uma cadeira portatil e com todo o material necessário.
De manha trabalhamos cerca de 3h, almoçamos, uns descansaram e outros (eu e Flavia) fomos passear pela tabanca, que rico passeio!! Ainda tirei agua do poço onde estavam tres crianças a trabalhar Dino, Nina e Isabel super alegres. A meio do passeio a Isabel veio a correr para me oferer cabaceira (um fruto de ca que faz um optimo gelado!).













As 4h voltamos a trabalhar, debaixo de um calor um bocado mais quente que o de manha! Eu trabalhei ate as 7 porque sem luz do dia é muito dificil mas a parte da enfermeiria ainda continuou ate as 8.30 (resistentes!!). Depois de 6 horas de trabalho vi 20 doentes, extrai 12 dentes também nao dava para muito mais visto que o material esterilizado estava a escassear.








No fim, comemos todos, equipa de trabalho mais a malta que ajudou a organizar toda a dinamica, à luz de lanternas. No fim do jantar fomos chamados a atenção por um grupo de crianças que se pos a volta de uma grande fogueira, o grupo ia aumentando mas o silencio mantinha-se até que começam todos a cantar: era a hora de rezarem! Foi bonito mesmo, sem luz artificial, so das estrelas e da fogueira, sem sons de fundo, so eles a cantarem. Não consegui tirar os olhos das estrelas e da fogueira até que saltaram para cada criança, agradecendo o momento que estava a ter!
O fim do dia estava cada vez mais perto, e de facto o cansanço ja pesava e o corpo ja pedia repouso e assim fomos todos nos deitar, bem alegres, posso dize-lo.



No dia seguinte ainda pensei tomar um banho mas sem sucesso, enfim, havia toalhitas!
Tinhamos de sair cedo para a populaçao não começar a aproximar-se e tornar mais dificil a nossas partida. Ao fim da manha ja estava tudo arrumado e pronto para irmos mas sem antes a Mafalda brincar um bocado à apanhada com a criançada e tirarmos a fotografia de grupo.





Confesso que me custou muito a despedida e fiquei com uma vontade imensa de voltar, trabalhar mais, entregar escovas, por fluor, enfim fazer mil coisas que sei que posso fazer mas que não tive tempo e quando vejo os f.d.s que ja sao tao pouco...ai...mas quero voltar!
A volta foi feita com tranquilidade, com paragem em Quebo, um mergulho no rio em Buba e ainda para ir buscar os porcos para o casamento do Jeremias! Chegamos à 1 da manha e ainda tivemos de ir por o material para esterilizar haha podre? Sim! Radiante? SIM :D







Esta tabanca vive noutra realidade, nao de Africa, mas da nossa. Não ha nada de tecnologias, ha um ou outro gerador, não ha lixo porque também nao compras possiveis, não ha plasticos no chão e ainda vivem sobre regras familiares e de casamentos que nem nos passam pela cabeça e quando são contadas e relatadas nem queremos acreditar...que realidade diferente. Um dilema mesmo porque acho optimo viver-se na simplicidade maxima e sem se estar preso a futilidades mas por outro lado com esta vida estao agarrados, sempre, os “senãos” da vida das raparigas destas tabancas, que ou são violadas, ou casam com 12 anos ou outras coisas que nem queremos ouvir mas que infelizmente existem... Tudo em Africa é vivido com sentimentos duplos e que normalmente estão em lados opostos.

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